O inconsciente tornado consciente



Pedalava a toda a velocidade uma bicicleta antiga, com dois passageiros atrás, desconheço suas identidades e se eram sequer humanos, olho para trás para confirmar que está tudo bem e quando olho para a frente, estou contra a mão e um veiculo (que desconheço qual), ilumina-me com potentes luzes e ultrapassa-me, vou a meio da estrada de paralelos rodeada por uma centena de árvores centenárias.
Chego ao final da avenida, parece um lugar conhecido e familiar, mas não é. É como se fosse no mesmo local mas uma dúzia de dimensões acima, onde tudo é distorcido, a luz, as trevas, os sons, os seres, a paisagem, tons de lilás, roxo e violeta, criam o ambiente noturno daquele lugar, toca uma música indecifrável.
Vejo que perdi os meus incógnitos passageiros no caminho, questiono-me se vinham mesmo comigo na bicicleta ou se pairariam atrás dela, procuro por eles na praça, mas em vão.
Do meu lado esquerdo existe uma vala em betão com uns 3 metros de profundidade e com o fundo em U quadrado, o fundo estava coberto com água e estava cheio de objectos flutuantes do que pareciam ser pacotes tetra pak, os meus dois passageiros sairam daí através de uns degraus no final da vala.
Em seguida estávamos numa festa, dentro de um edifício antigo com divisões pequenas, portas brancas trabalhadas, estreitas e pé direito alto. Numa divisão ampla, um colchão com um crocodilo de barriga para o ar. Quem me faz a visita guiada pelo espaço informa-me que uma mulher se prepara para fazer sexo com o réptil. Como?- perguntei eu.
A minha guia fez um gesto apontando para o local para que observasse, a parte ventral do crocodilo fora separada do resto do corpo, a mulher encaixou-se entre esta última e o réptil e começaram a cópula. Bizarro demais, nunca tinha visto algo assim, parecia o codex seraphinianus.
Em seguida o guia entrega-me um copo grande com uma bebida vermelha, gelo e uma palhinha. Fui bebericando e circulando, a música continuava imperceptível e os discursos dos convidados indecifráveis.
Subitamente as pessoas, seres, começaram a sair e a festa terminava com urgência, estava num pátio de cimento com dois níveis e umas escadas no centro, o chão estava molhado. Perguntei a toda a gente pela minha roupa, ninguém sabia. Perguntei a quem pagaria a minha bebida que parecia campari, a minha guia disse para não me preocupar que o café do ... já tinha fechado. Pede-me para aguardar enquanto a vejo a falar com o montanha de carne da mulher que me interrompera depois de acasalar com o jacaré na sala. Notei que tinha as costas completamente cravejadas de sangue, entre arranhões e furos.
Continuava procurando a minha roupa, encontrei algumas encostadas aos cantos do pátio de cimento, como se tivessem sido mangueiradas a alta pressão, ensopadas.
Não as encontrei a todas. As pessoas continuavam a sair por um portão de ferro que emitia um clarão branco azulado cada vez que saia alguém, parecia o stargate. Eu continuava com urgência à procura da minha roupa, vasculhando roupas que não eram as minhas, encontro uma sweat preta com capuz com desenhos de aliens, não a quero, não quero atrair aliens, abduções e afins... E rio-me de mim próprio.
Desço as escadas do pátio e um pequeno ser de luz, meio alienigena aponta-me uma arma, dizendo sem dizer, para eu desaparecer, que está farto de me ouvir perguntar por minhas coisas, com um ar ameaçador, que eu desvalorizei por completo face à sua reduzida dimensão. A minha guia apaziguou a criatura e pediu-me para sair, tranquilizando-me, de que estava tudo bem, olhei em redor e parecia-me que tinham feito muitas experiencias com muita gente, a maior parte tinha desaparecido.
Vi o claro branco azulado e terminou. Onde, como e com quem teria estado?
O inconsciente tornado consciente.

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